domingo, 18 de dezembro de 2016

"Lar é onde está meu coração"


Lar, para mim, sempre significou pessoa e não lugar.

Lugar é qualquer cantinho desse mundo onde se pode pendurar um quadro seu, é qualquer pedaço de escritura em com nome e sobrenome, é conforto comprado com dinheiro, é passagem com destino e horário incerto, pois certo mesmo é que não haverá ninguém te esperando na chegada.

Mas lar. Lar é sempre onde moram as pessoas que amamos, essa gente que nos norteia mesmo sem bússola ao alcance e tem um dom interessante de abraçar com o olhar. Lar pode ser o lugar mais feio do mundo, mas de uma feiura aconchegante, quase bonita de ver; é sair querendo voltar e quando voltar, suspirar aliviado.

Por muito tempo acreditei que, pelas leis do Universo, um lar só poderia ser deixado em detrimento de outro, de modo que haveria sempre um porto para chamar de meu aguardando o retorno. Qual não foi a minha surpresa quando percebi num dia desses, vagueando mundo afora, que não via mais sentido em voltar? Estranhamente perdi meu porto e também deixei de ser um -me dei conta de que sem me sentir em meu lar, vivia navegando à deriva.

Assim, errante mar afora, me pego com a chave nas mãos sem saber se há qualquer diferença entre entrar ou sair; desesperada por ver sentido no cotidiano, tento trazer sabores cada vez mais fortes a uma vida irremediavelmente insípida; desorientada de meu destino, compro passagens para novos lugares certa de que haverá alguém esperando por mim no saguão.

Mas não há.

Não há nada nem ninguém que me traga um novo significado plenitude e finalmente fui obrigada a dar uma nova compreensão ao que antes chamava solidão: sem lar ou terra à vista, fiz morada em mim mesma. 

Nenhum comentário: