quarta-feira, 4 de novembro de 2015

O mar é ali



Para mim, às vezes, o mundo acaba em Minas Gerais. Acaba neste pedaço de sertão onde a gente, que tanto sonha com o mar, persiste velhando, como dizia Guimarães Rosa, levando a vida tão vagarosa e calma quanto nosso próprio sotaque. Para mim, às vezes, o mundo termina na modéstia de nossas ladeiras e ruas estreitas, por onde seguimos sempre em linha reta, olhando para os lados sem, no entanto, ver parte alguma. Para mim, às vezes, o mundo termina dentro de mim e de minhas saudades.
Saudade que chega a doer de lugares que nunca visitei, saudade que chega chorar de lugares pelos quais me apaixonei, como se parte de minhas outras vidas estivessem sempre entre uma distância e outra: aqui, mas sempre lá, lá mas sempre aqui. Sinto falta de ter o mar perto, sinto falta da Lua (ou da Espanha?), sinto falta do meu Mutum, e sinto falta de gente que já amei e gente que nunca vi. A sina de um coração que nasceu para ser dividido e amar as distâncias –amar às distancias -, é se perguntar quando é que se sentirá completo se não pode se dividir, também, em corpos.
Lembro-me do pigmeu do conto de Chesterton que se maravilhou diante de um pequeno jardim, enquanto o gigante, Paulo, deu uma volta na Terra em apenas alguns minutos e por fim adormeceu, entediado. Minha pequenez faz do mundo uma imensidão a ser desbravada, seja outro continente, seja logo ali em minha esquina, ‘Basta abrir os olhos, bicho do mato’, ouço alguém sussurrar, basta caminhar em linha reta, mas ver além de olhar.
O mundo termina dentro de mim, onde guardo as lembranças mais vivas e os amores mais intensos, mas reescrevo e digo o contrário, pois o mundo também começa aqui onde, feito Fernando Pessoa, ainda cultivo todos os sonhos.
É mais ou menos assim mesmo. Cada um tem seu mar dentro de si.