sábado, 16 de maio de 2015

'Memórias de uma blogueira na Europa" - A BALDEAÇÃO, PARTE I


Eu não me perdoo por ainda não ter tirado um tempo para narrar uma das melhores e mais inesquecíveis experiências da minha vida que foi minha aventura para a Europa, nas férias desse ano.

Não vou pormenorizar quando e como surgiu a oportunidade da viagem, fato é que em 26 de março, numa quinta-feira à noite, minha jornada começaria rumo a Paris. Mas a minha baldeação beirava a insanidade e depois que eu expliquei tipo três vezes para mãe como é que eu finalmente chegaria a Paris, ela riu e falou com seu costumeiro tom de deboche:

-Minha filha, estão te pagando quanto para fazer essa viagem? –muitas risadinhas abafadas em seguida.

Vamos lá né gente, era uma passagem promocional, eu não poderia me importar em passar quatro dias viajando, fazendo escalas em quatro cidades, duas rodoviárias, dois aeroportos e uma estação de trem. Acompanhou? Bom, basicamente só não teve navio como meio de transporte, mas são detalhes. Cheguei em BH sexta de manhã e Lucas e eu estávamos em polvorosa, porque ele era meu então companheiro de viagem, que chegaria em Paris um dia antes de mim. Mas um balde de água fria, repentino e inesperado, acabou com nossa excitação na sexta-feira à noite, véspera da viagem, pois Lucas foi chamado na prova de residência e começaria já na segunda! A partir daí nos vimos num verdadeiro dramalhão mexicano, passamos uma noite toda regada a latões de Brahma, lágrimas, telefonemas durante a madrugada, vídeos de cachorrinhos sendo resgatados, indecisões e mais lágrimas.

No sábado de manhã, me sentindo completamente devastada e tonta, parti de BH para o Rio de Janeiro sem Lucas. 


         BH > RIO > GUARULHOS. DONE.
                                 

Assustada demais para me dar conta de que estava indo fazer minha primeira viagem internacional sozinha, nem eu mesma acreditei quando me vi, no domingo, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, prestes a embarcar rumo a Amsterdam.

   Fila de promoção é assim né, migs

O quanto eu senti medo, não preciso detalhar, basta dizer que Belo Horizonte era o mais distante que eu me permitia chegar sem meu travesseiro, então alguma coisa em minha cabeça dizia “POR QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO ISSO, PEQUENO GAFANHOTO? VOLTE PARA MOMMY”. Eu ouvia todo mundo dizer “Paula, mas essa vai ser uma experiência incrível para você, que é a pessoa mais avoada e medrosa do universo. É quase um teste empírico de que bebês foca sobrevivem quando estimulados por uma real necessidade”. Mas eu respondia “É claro que será uma ótima experiência se eu voltar. E se roubarem meus órgãos? E se me sequestrarem igual na novela? E se eu pegar o trem errado e acordar na Eslovênia? Porque eu não sei falar esloveno..”, e assim eu divagava.

Viajei praticamente em uma turbulência. Poucos foram os minutos em que o avião não sacudiu e, no auge do meu desespero, sem ter ninguém para eu dedicar Belchior:  "Foi por medo de avião que eu segurei pela primeira vez na sua mão...", me entupi de Dramim e acordei sobrevoando solo europeu. Aí a cara da viagem mudou e eu comecei a sentir uma animação quentinha surgir em mim, feito um solzinho em dia de frio. Durou muito pouco esse solzinho, porque quando desembarquei, um guarda alfandegário (que seguia o padrão local e era muito bonito, por sinal) me entrevistou por quase uma hora perguntando por que, afinal, eu estava viajando sozinha. No final da entrevista, vendo que eu já estava muito puta da vida, o guarda começou a fazer hora com a minha cara e faltou me perguntar se meus gatos comiam ração Whiskas ou Friskies (Resposta: nenhuma das duas).


Instalei-me comodamente no aeroporto Schipol, onde aguardava meu trem para me levar a Paris. O que fiz nas poucas horas em que estive lá? Esse vídeo aqui informa: fiquei quase três horas falando sozinha enquanto tentava me habituar ao frio de nove graus. Ness’altura da viagem o solzinho já me esquentava novamente e diante de tanta novidade a ser registrada por meus olhos, o medo ficou para trás.

Certifiquei-me umas cinco vezes do horário do meu trem, da plataforma, da porta e da cadeira. Eu realmente não podia ir parar em outro país porque, como já disse antes, eu não sei falar esloveno ou finlandês e derivados. De vez em quando em me lembrava de como seria legal estar fazendo essa aventura acompanhada e a saudade de Lucas me matava. Impossível não lembrar as nossas conversas antes da viagem, quando imaginávamos, morrendo de rir, como seria se pegássemos trens errados e não nos déssemos conta nem quando chegássemos ao destino. Segundo ele, eu desceria em Praga super empolgada e chegaria a um hostel aleatório "Oi, Lucas já chegou?", e ele me mandaria um whatsapp de Bruxelas "Negraaaa cadê você? Estou te esperando em Paris há dois dias!!!".

Tive que engolir a vontade de chorar, especialmente quando me lembrei de novo do vídeo que assistimos juntos (o cachorrinho sendo resgatado), e tomei o trem Thalys para Paris. A senhora que estava ao meu lado era um verdadeiro anjo e morreu de rir quando eu disse que estava com medo de ‘passar de Paris’. Não só me deu altos conselhos, como me avisou para ir buscar a mala antes de todo mundo, para não ficar agarrada.
                                              



Pisei um dos pés na estação Gare Du Nord, maravilhada e ansiosa, quando me vi envolta numa espécie de bruma romântica que constatei em seguida ser um nevoeiro de fumaça de cigarro mesmo. Quando tossi, as duas chaminés travestidas de moças que estavam à minha frente, pararam, olharam para mim da cabeça aos pés, e caíram na risada. Fechei a cara e ultrapassei-a com minha mala 1.6.


Mal havia chegado ao meu destino, com uma sensação maravilhosa de liberdade e autonomia, e já havia sofrido meu primeiro bullying (o que, para estrangeiros em Paris, é até corriqueiro, tão constante ocorre). Então ergui a cabeça, deslumbrada demais para registrar passagens ruins, e segui rumo á Rue Dunkerque. Paris, finalmente!


Próximos capítulos: "Como curtir sozinha em Paris", "Minhas amigas finalmente chegaram!" e "Amsterdam, uma história de amor".


Update: Parte II (De Paris, com Amor)

Bisou, bisou!

terça-feira, 5 de maio de 2015

Confissões de um sedutor irreparável






       “Lolita, luz da minha vida, fogo da minha carne.
 Minha alma, meu pecado. Lo-li-ta: 
a ponta da língua toca em três pontos consecutivos 
do palato para encostar, ao três, nos dentes. Lo. Li. Ta.”

Vladimir Nabokov

Vamos jogar um jogo?

Você me procura e eu te ignoro. Depois mudo de ideia e te puxo de volta.

Te beijo vorazmente e juro amor eterno olhando no fundo dos seus olhos. Mas em um segundo me canso e te faço sucumbir, de joelhos, humilhado e ferido, aos meus pés.  

Espero o tempo passar, você se recompor, lamber tuas feridas, só para voltar novamente e te enlouquecer.


Antes que eu perceba, já tenho um objetivo, uma estratégia, uma artilharia e uma guerra a vencer: um de nós dois vai ter que cair. Mal me dou conta e já estou te encarando por cima das cartas, jogando os dados e umedecendo os lábios com a ponta da língua enquanto te distraio do jogo. Volta e meia me vejo venerada e odiada por mulheres que acreditam dominar minha arte.


Lolita se tornou meu livro de cabeceira e me pego em meio a enlouquecidos 'Humbert Humberts', jurando amor sincero, jurando meu fim... Mas eu jogo os cabelos para trás e rio gostosamente na cara do perigo. Eles são inofensivos e esse jogo já está ganho.


É preciso traçar um novo objetivo, ainda mais difícil que esse último, e recomeçar tudo de novo. A adrenalina toma conta de todo meu corpo quando coloco meu time em campo, mas logo o sangue se esfria, porque esse foi mais fácil do que eu esperava. Não venha me julgar e dizer que não presto, porque eu e você sabemos que somos igualmente viciados em seduzir: somos ávidos pela conquista. E também não se faça de santo: ser desejado e desejar, ardentemente, uma pessoa, é capaz de fazer qualquer bom moço sentir calor.


Porém, Casanova, chegou a hora de parar. A sedução é uma guerra, um jogo, uma arte, mas também uma doença. Ninguém conta nos livros como é que me sinto vazia depois de conquistar um objetivo e como a ânsia por um novo desafio cresce feito um monstro dentro de mim. Como é superficial e frio viver de amor em amor esperando que eles me respondam perguntas que sequer sei quais são.


Talvez os fantasmas do passado ainda nos assombrem, Casanova. Talvez eles escarneçam e sussurrem em nossos ouvidos que merecemos mesmo uma vida de amores levianos para pagar por tudo que fizemos e que nunca vamos conseguir amar de verdade.
Mas meu meu amigo, se isso é um desafio... Eu já aceitei antes que a aposta fosse feita.