segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

"NUNCA TIVE OUTRA IDADE SENÃO A DO CORAÇÃO"



Dizem as más ou boas línguas que hoje completo vinte e sete anos. Vinte e fucking sete. VINTE E SETE. Você ta duvidando? Ah, obrigada, gentileza de sua parte, mas eu também tô duvidando. Disseram-me que as pessoas de vinte e sete anos são adultas, tem metas, trabalham duro, vivem com os dois pés na realidade e perdem os olhos sonhadores. Eu olhei desconfiada e na véspera do meu aniversário pensei “É, sei não... Só uma espécie de mágica para me deixar assim...”. Disseram-me que, nossa, ia voar depois dos dezoito! E sabe o que eu disse? “Mas que gente chata que repete discurso dos outros. Voa para uns, para mim não”. Agora, eu me pergunto: será que tomei Dramim demais nessa viagem dos dezoito até aqui e o comissário de bordo me sacudiu, depois de o avião já ter pousado, dizendo “Moça, moça, acorda. Chegamos”?

Well, well, well, vamos reconhecer o solo de se ter vinte e sete.

“-Por aqui não mudou muita coisa, garota de Dezessete. –começo dizendo no rádio. –Ou mudou demais e eu ainda to zonza? Câmbio.

Então eu de dezessete, diretamente saída de horários duplos de Inglês e de tardes com as amigas ensaiando coreografia de Moulin Rouge (sim, eu fazia isso aos 17), pergunto: ta, Paula, mas deu tudo certo por aí?
Olha, amiga, é o seguinte: tenho uma notícia ruim e uma boa. A ruim é que você ainda não se casou. A boa é que você ainda não se casou. Iiiih! Calma com essa pirraça porque eu não tenho a paciência da sua mãe! Eu sei, eu sei... Eu já devia estar magra, alta (qual era seu plano, colocar uma platina de metal de dez centímetros nas canelas?), casada com o Henrique, aquele Defensor Público bonitão com quem topei na rua, exibindo o brilhante Tiffany que ele me deu no último Natal em Nova York, eu sei... Poxa, te dizer que eu até me esforcei, mas os Henriques tem sido um tanto quanto idiotas, as dietas são de matar, os brilhantes da Tiffany estão um absurdo (vá logo se contentando com um Vivara) e férias em Dezembro? Garota, você não tem ideia do que significa ter um trabalho.

Mas preciso te dizer que fizemos muito mais do que você esperava e sem precisar do suor de senhor ninguém. É isso mesmo: aos vinte e sete estamos on our own olhando a cartela de cores para pintar a parede do quarto, ou o próximo destino para viajar pelo mundo, ou conhecendo o novo Henrique, sem muita pressa. A sensação olhando o mundo daqui é muito boa e estamos em um terreno relativamente seguro, a não ser...

A não ser quando vem as crises de meia idade, e a culpa, eu preciso dizer, é toda desse pessoal que se casa, tem filhos e casa própria tão cedo. Gente, vocês estão me confundindo. Estou lá, feliz e satisfeita rindo de piadas do Le Ninja e dizendo aos meus amigos “Nossa, você precisa ver um cara comendo um pote de Nívea achando que é iogurte”, quando me surge no Facebook um “O colega que cursou ensino médio com você acabou de se casar com uma jovem da mesma idade e agora eles estão encarando, com olhar de reprovação, sua última foto do réveillon, abraçada a uma turma de rapazes que conheceu na balsa para a ilha”. Pessoas adultas: parem com isso! Eu ainda não dou conta.

Certo que aos dezessete eu também me via no futuro meio artista prodígio incompreendida, feito Janis Joplin. Como isso, sem ser uma deusa dos palcos, sem cantar ou tocar qualquer instrumento? Sei lá, só achei. É uma daquelas certezas que habitam nossa mente, como a de que aos trinta e sete eu estarei passando um verão em Bora Bora. Mas calma que vamos engatinhando; coisas que nunca nos imaginamos fazendo antes são bem reais agora, por exemplo, escrever textos que não só são postáveis, como também são apreciados, curtidos e compartilhados. Ah –prenda a respiração- sabe aquele seu sonho adolescente de conhecer Paris e chorar de emoção ao ver a torre Eiffel num sábado à noite? Então, pode riscar aí de sua agendinha Capricho porque fizemos essa aventura com duas de nossas melhores amigas: foi muito melhor do que o sonho.

Sobre o passado, preciso admitir que morro de saudade de você, garota magrela de dezessete, e de seus chiliques e dramas ouvindo Oasis, morro de saudade de sua despreocupação ao enfiar a cara num prato de brigadeiro, ou da sua inocência em acreditar que as pessoas ruins não cruzariam seu caminho, mas te tranquilizo e informo que você não ficou presa aí no passado; temos nossos dramas, ainda choramos ouvindo Oasis, comemos brigadeiro (prometendo uma corrida que nunca vai se realizar no dia seguinte) e até cruzamos com pessoas más, mas nada que uma boa dose de bom humor e proteção divina não resolva. Ninguém insiste em brigar sozinho ou importunar alguém que não tem nada a oferecer além de sorrisos. De mais a mais, como eu dizia, somos a mesma jovem de risada escandalosa de sempre, pois, como li em algum lugar dia desses “Nunca tive outra idade senão a do coração”. Assim, vamos nos sentir com trinta e cinco em um dia qualquer desses, noutro vamos fazer um tererê no cabelo e não passaremos de dezoito, durante um breve momento de sabedoria nos julgaremos com cinquenta e tantos, e de tempos em tempos, em momentos excepcionais, contarão as más ou boas línguas -ou formulários de repartição pública- quais são nossos verdadeiros números e é somente assim é que ter vinte e fucking sete anos pode me assustar, sendo números.

Terreno reconhecido, observações feitas... Essas são as notícias do meu presente e do seu futuro, garota de dezessete anos e acho que estamos nos saindo até bem nesse primeiro dia. Há ainda 364 para nos superarmos e quem sabe nos tornamos a mulher magra, adulta e alta do futuro (alta ainda não entendi como). Quer me perguntar algo? Eu preciso desligar, há um monte de coisa para fazer e nosso aniversário ainda caiu em uma segunda-feira. Depois me conta as notícias do passado. Ps: E os namoradinhos? Hihihi.

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2006  Enviado via MSN


"-Ah, não, não, acho que já tenho todas as respostas. E... Eh... A propósito, feliz aniversário pelos vinte e sete e parabéns por tudo mais. Eu sabia que, de uma maneira ou de outra, você se tornaria a mulher que quero ser. Continue em frente, acho que de sua maneira meio louca, há um plano a seguir.

Ps: Nunca pergunte “E os namoradinhos”. Quase destruí toda a imagem de jovem legal e descolada que tinha de você e te imaginei com um suéter Pink bordado “Tia Paula”. Fora isso, ta tudo certo. Um beijo para você aí no futuro. Câmbio, desligo."




2 comentários:

Jair Jr. disse...

Menina/mulher de vinte e poucos anos... com essa escrita soberba, e esse humor ácido adocicado, tipo limonada com pouca água, você tem alcançado corações e revivido experiências fantásticas (quase esquecidas) da nossa era perdida: dezessete! Lembra da música do Legião??? "Ele só tinha dezessete..." bem, acho que seria legal se ele estivesse vivo, hoje, com vinte e sete, trinta e sete, sei lá, comemorando essa data maravilhosa do seu níver! Parabéns!

Ana Paula disse...

Como sempre adorei o post!
Ficou simplesmente fascinante :)