terça-feira, 5 de maio de 2015

Confissões de um sedutor irreparável






       “Lolita, luz da minha vida, fogo da minha carne.
 Minha alma, meu pecado. Lo-li-ta: 
a ponta da língua toca em três pontos consecutivos 
do palato para encostar, ao três, nos dentes. Lo. Li. Ta.”

Vladimir Nabokov

Vamos jogar um jogo?

Você me procura e eu te ignoro. Depois mudo de ideia e te puxo de volta.

Te beijo vorazmente e juro amor eterno olhando no fundo dos seus olhos. Mas em um segundo me canso e te faço sucumbir, de joelhos, humilhado e ferido, aos meus pés.  

Espero o tempo passar, você se recompor, lamber tuas feridas, só para voltar novamente e te enlouquecer.


Antes que eu perceba, já tenho um objetivo, uma estratégia, uma artilharia e uma guerra a vencer: um de nós dois vai ter que cair. Mal me dou conta e já estou te encarando por cima das cartas, jogando os dados e umedecendo os lábios com a ponta da língua enquanto te distraio do jogo. Volta e meia me vejo venerada e odiada por mulheres que acreditam dominar minha arte.


Lolita se tornou meu livro de cabeceira e me pego em meio a enlouquecidos 'Humbert Humberts', jurando amor sincero, jurando meu fim... Mas eu jogo os cabelos para trás e rio gostosamente na cara do perigo. Eles são inofensivos e esse jogo já está ganho.


É preciso traçar um novo objetivo, ainda mais difícil que esse último, e recomeçar tudo de novo. A adrenalina toma conta de todo meu corpo quando coloco meu time em campo, mas logo o sangue se esfria, porque esse foi mais fácil do que eu esperava. Não venha me julgar e dizer que não presto, porque eu e você sabemos que somos igualmente viciados em seduzir: somos ávidos pela conquista. E também não se faça de santo: ser desejado e desejar, ardentemente, uma pessoa, é capaz de fazer qualquer bom moço sentir calor.


Porém, Casanova, chegou a hora de parar. A sedução é uma guerra, um jogo, uma arte, mas também uma doença. Ninguém conta nos livros como é que me sinto vazia depois de conquistar um objetivo e como a ânsia por um novo desafio cresce feito um monstro dentro de mim. Como é superficial e frio viver de amor em amor esperando que eles me respondam perguntas que sequer sei quais são.


Talvez os fantasmas do passado ainda nos assombrem, Casanova. Talvez eles escarneçam e sussurrem em nossos ouvidos que merecemos mesmo uma vida de amores levianos para pagar por tudo que fizemos e que nunca vamos conseguir amar de verdade.
Mas meu meu amigo, se isso é um desafio... Eu já aceitei antes que a aposta fosse feita.