Lar, para mim, sempre
significou pessoa e não lugar.
Lugar é qualquer cantinho
desse mundo onde se pode pendurar um quadro seu, é qualquer pedaço de escritura
em com nome e sobrenome, é conforto comprado com dinheiro, é passagem com
destino e horário incerto, pois certo mesmo é que não haverá ninguém te esperando
na chegada.
Mas lar. Lar é sempre onde
moram as pessoas que amamos, essa gente que nos norteia mesmo sem bússola ao
alcance e tem um dom interessante de abraçar com o olhar. Lar pode ser o lugar
mais feio do mundo, mas de uma feiura aconchegante, quase bonita de ver; é
sair querendo voltar e quando voltar, suspirar aliviado.
Por muito tempo acreditei
que, pelas leis do Universo, um lar só poderia ser deixado em detrimento de
outro, de modo que haveria sempre um porto para chamar de meu aguardando o
retorno. Qual não foi a minha surpresa quando percebi num dia desses, vagueando
mundo afora, que não via mais sentido em voltar? Estranhamente perdi
meu porto e também deixei de ser um -me dei conta de que sem me sentir em meu
lar, vivia navegando à deriva.
Assim, errante
mar afora, me pego com a chave nas mãos sem saber se há qualquer diferença
entre entrar ou sair; desesperada por ver sentido no cotidiano, tento trazer
sabores cada vez mais fortes a uma vida irremediavelmente insípida;
desorientada de meu destino, compro passagens para novos lugares certa de que
haverá alguém esperando por mim no saguão.
Mas não há.
Não há nada nem ninguém que
me traga um novo significado plenitude e finalmente fui obrigada a dar uma
nova compreensão ao que antes chamava solidão: sem lar ou terra à vista,
fiz morada em mim mesma.
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