Dizem as más ou boas línguas
que hoje completo vinte e sete anos. Vinte e fucking sete. VINTE
E SETE. Você ta duvidando? Ah, obrigada, gentileza de sua parte, mas
eu também tô duvidando. Disseram-me que as pessoas de vinte e sete anos são
adultas, tem metas, trabalham duro, vivem com os dois pés na realidade e perdem
os olhos sonhadores. Eu olhei desconfiada e na véspera do meu aniversário
pensei “É, sei não... Só uma espécie de mágica para me deixar assim...”.
Disseram-me que, nossa, ia voar depois dos dezoito! E sabe o que eu
disse? “Mas que gente chata que repete discurso dos outros. Voa para uns, para
mim não”. Agora, eu me pergunto: será que tomei Dramim demais nessa viagem dos
dezoito até aqui e o comissário de bordo me sacudiu, depois de o avião já ter
pousado, dizendo “Moça, moça, acorda. Chegamos”?
Well, well, well, vamos
reconhecer o solo de se ter vinte e sete.
“-Por aqui não mudou muita
coisa, garota de Dezessete. –começo dizendo no rádio. –Ou mudou demais e eu
ainda to zonza? Câmbio.
Então eu de dezessete,
diretamente saída de horários duplos de Inglês e de tardes com as amigas
ensaiando coreografia de Moulin Rouge (sim, eu fazia isso aos 17), pergunto:
ta, Paula, mas deu tudo certo por aí?
Olha, amiga, é o seguinte:
tenho uma notícia ruim e uma boa. A ruim é que você ainda não se casou. A boa é
que você ainda não se casou. Iiiih! Calma com essa pirraça porque eu não tenho
a paciência da sua mãe! Eu sei, eu sei... Eu já devia estar magra, alta (qual
era seu plano, colocar uma platina de metal de dez centímetros nas canelas?),
casada com o Henrique, aquele Defensor Público bonitão com quem topei na rua,
exibindo o brilhante Tiffany que ele me deu no último Natal em Nova York, eu
sei... Poxa, te dizer que eu até me esforcei, mas os Henriques tem sido um
tanto quanto idiotas, as dietas são de matar, os brilhantes da Tiffany estão um
absurdo (vá logo se contentando com um Vivara) e férias em Dezembro? Garota,
você não tem ideia do que significa ter um trabalho.
Mas preciso te dizer que
fizemos muito mais do que você esperava e sem precisar do suor de senhor
ninguém. É isso mesmo: aos vinte e sete estamos on our own olhando
a cartela de cores para pintar a parede do quarto, ou o próximo destino para
viajar pelo mundo, ou conhecendo o novo Henrique, sem muita pressa. A sensação
olhando o mundo daqui é muito boa e estamos em um terreno relativamente seguro,
a não ser...
A não ser quando vem as
crises de meia idade, e a culpa, eu preciso dizer, é toda desse pessoal que se
casa, tem filhos e casa própria tão cedo. Gente, vocês estão me
confundindo. Estou lá, feliz e satisfeita rindo de piadas do Le Ninja e dizendo
aos meus amigos “Nossa, você precisa ver um cara comendo um pote de Nívea
achando que é iogurte”, quando me surge no Facebook um “O colega que cursou
ensino médio com você acabou de se casar com uma jovem da mesma idade e agora
eles estão encarando, com olhar de reprovação, sua última foto do réveillon,
abraçada a uma turma de rapazes que conheceu na balsa para a ilha”. Pessoas
adultas: parem com isso! Eu ainda não dou conta.
Certo que aos dezessete eu
também me via no futuro meio artista prodígio incompreendida, feito Janis
Joplin. Como isso, sem ser uma deusa dos palcos, sem cantar ou tocar qualquer
instrumento? Sei lá, só achei. É uma daquelas certezas que habitam nossa mente,
como a de que aos trinta e sete eu estarei passando um verão em Bora Bora. Mas
calma que vamos engatinhando; coisas que nunca nos imaginamos fazendo antes são
bem reais agora, por exemplo, escrever textos que não só são postáveis, como
também são apreciados, curtidos e compartilhados. Ah –prenda a respiração- sabe
aquele seu sonho adolescente de conhecer Paris e chorar de emoção ao ver a
torre Eiffel num sábado à noite? Então, pode riscar aí de sua agendinha
Capricho porque fizemos essa aventura com duas de nossas melhores amigas: foi
muito melhor do que o sonho.
Sobre o passado, preciso
admitir que morro de saudade de você, garota magrela de dezessete, e de seus
chiliques e dramas ouvindo Oasis, morro de saudade de sua despreocupação ao
enfiar a cara num prato de brigadeiro, ou da sua inocência em acreditar que as
pessoas ruins não cruzariam seu caminho, mas te tranquilizo e informo que você
não ficou presa aí no passado; temos nossos dramas, ainda choramos ouvindo
Oasis, comemos brigadeiro (prometendo uma corrida que nunca vai se realizar no
dia seguinte) e até cruzamos com pessoas más, mas nada que uma boa dose de bom
humor e proteção divina não resolva. Ninguém insiste em brigar sozinho ou
importunar alguém que não tem nada a oferecer além de sorrisos. De mais a mais,
como eu dizia, somos a mesma jovem de risada escandalosa de sempre, pois, como
li em algum lugar dia desses “Nunca tive outra idade senão a do coração”.
Assim, vamos nos sentir com trinta e cinco em um dia qualquer desses, noutro
vamos fazer um tererê no cabelo e não passaremos de dezoito, durante um breve
momento de sabedoria nos julgaremos com cinquenta e tantos, e de tempos em
tempos, em momentos excepcionais, contarão as más ou boas línguas -ou
formulários de repartição pública- quais são nossos verdadeiros números e é
somente assim é que ter vinte e fucking sete anos pode me
assustar, sendo números.
Terreno reconhecido,
observações feitas... Essas são as notícias do meu presente e do seu futuro,
garota de dezessete anos e acho que estamos nos saindo até bem nesse primeiro
dia. Há ainda 364 para nos superarmos e quem sabe nos tornamos a mulher magra,
adulta e alta do futuro (alta ainda não entendi como). Quer me perguntar algo?
Eu preciso desligar, há um monte de coisa para fazer e nosso aniversário ainda
caiu em uma segunda-feira. Depois me conta as notícias do passado. Ps: E os
namoradinhos? Hihihi.
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2006 – Enviado via MSN
"-Ah, não, não, acho
que já tenho todas as respostas. E... Eh... A propósito, feliz aniversário
pelos vinte e sete e parabéns por tudo mais. Eu sabia que, de uma maneira ou de
outra, você se tornaria a mulher que quero ser. Continue em frente, acho que de
sua maneira meio louca, há um plano a seguir.
Ps: Nunca pergunte “E os
namoradinhos”. Quase destruí toda a imagem de jovem legal e descolada que tinha
de você e te imaginei com um suéter Pink bordado “Tia Paula”. Fora isso, ta
tudo certo. Um beijo para você aí no futuro. Câmbio, desligo."
2 comentários:
Menina/mulher de vinte e poucos anos... com essa escrita soberba, e esse humor ácido adocicado, tipo limonada com pouca água, você tem alcançado corações e revivido experiências fantásticas (quase esquecidas) da nossa era perdida: dezessete! Lembra da música do Legião??? "Ele só tinha dezessete..." bem, acho que seria legal se ele estivesse vivo, hoje, com vinte e sete, trinta e sete, sei lá, comemorando essa data maravilhosa do seu níver! Parabéns!
Como sempre adorei o post!
Ficou simplesmente fascinante :)
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