Para mim, às vezes, o mundo acaba
em Minas Gerais. Acaba neste pedaço de sertão onde a gente, que tanto sonha com
o mar, persiste velhando, como dizia Guimarães Rosa, levando a vida tão
vagarosa e calma quanto nosso próprio sotaque. Para mim, às vezes, o mundo
termina na modéstia de nossas ladeiras e ruas estreitas, por onde seguimos
sempre em linha reta, olhando para os lados sem, no entanto, ver parte alguma.
Para mim, às vezes, o mundo termina dentro de mim e de minhas saudades.
Saudade que chega a doer de
lugares que nunca visitei, saudade que chega chorar de lugares pelos quais me
apaixonei, como se parte de minhas outras vidas estivessem sempre entre uma
distância e outra: aqui, mas sempre lá, lá mas sempre aqui. Sinto falta de ter
o mar perto, sinto falta da Lua (ou da Espanha?), sinto falta do meu Mutum, e
sinto falta de gente que já amei e gente que nunca vi. A sina de um coração que
nasceu para ser dividido e amar as distâncias –amar às distancias -, é se
perguntar quando é que se sentirá completo se não pode se dividir, também, em
corpos.
Lembro-me do pigmeu do conto de
Chesterton que se maravilhou diante de um pequeno jardim, enquanto o gigante,
Paulo, deu uma volta na Terra em apenas alguns minutos e por fim adormeceu,
entediado. Minha pequenez faz do mundo uma imensidão a ser desbravada, seja
outro continente, seja logo ali em minha esquina, ‘Basta abrir os olhos, bicho
do mato’, ouço alguém sussurrar, basta caminhar em linha reta, mas ver além de
olhar.
O mundo termina dentro de mim,
onde guardo as lembranças mais vivas e os amores mais intensos, mas reescrevo e
digo o contrário, pois o mundo também começa aqui onde, feito Fernando Pessoa,
ainda cultivo todos os sonhos.
É mais ou menos assim mesmo. Cada
um tem seu mar dentro de si.
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