domingo, 22 de março de 2015

QUE TIPO DE LOUCA DEVO SER?

-Que tipo de louca devo ser?

...a aluada que sonha de olhos abertos? A neurótica que planeja cada segundo do respirar e do existir? A descontrolada que gargalha tão alto a ponto de acordar a vizinhança? A amargurada que resmunga sozinha enquanto sobe e desce escadas? A romântica que já descreveu todos os detalhes do casamento perfeito? A mulher que insiste em se dizer menina? A menina que interpreta ridiculamente um papel de mulher? Que louca, eu? Qual louca, eu? A aspirante a Jane Austen? A cantora de chuveiro que se imagina todos os dias no palco do cabaré? A perdida que passa horas pedalando pela cidade se enxergando menina bicicleteira, brejeira pelas ruas de Paris? A louca que grita de ódio esmiuçando fotos, cartas e lembranças em pequenos pedacinhos? A bêbada simpática e solícita? Aquela desconcertada que se deita no divã e se despe, timidamente, de todos os seus segredos, vergonhas e temores? 

A loucura de se enxergar de fora e de dentro e não saber dizer de qual lado você é maior, em qual parte de seu eu, você se perde e se encontra mais. Ah, que louca, eu? 
Louca que corre pela madrugada de braços dados consigo mesma? Louca que sorri diante do espelho ao responder àquela pergunta difícil que ninguém mais poderia responder? A louca que conversa animadamente com seus amigos imaginários ou aquela que acredita que seus melhores desabafos são seus escritos em guardanapos de boteco?

Ah, mas escolham então: qual louca devo ser? Estou cansada de ser tantas em uma, tanta intensidade em um só corpo, tanta ânsia pelo mundo e pela vida. Só não me peçam para ser nenhuma delas e deixar que a sanidade tome conta de mim, pois eu jamais saberia viver assim tropeçando no mundo real e inventando as desculpas ridículas que vocês adultos inventam para não terem mais brilho nos olhos. Eu quero ter sempre esse brilho nos olhos de quem vive em um universo paralelo, de quem tem um passarinho invisível cantando nos ouvidos ou um divertimento secreto dentro de uma caixinha ninguém mais pode saber. O brilho nos olhos de quem está constantemente, intensamente, loucamente apaixonada por um segredo.




Sim senhores, eu quero que a única constância em minha vida seja ser inconstante e errante, para que possa acordar todos os dias e dizer tranquilamente que mudei de ideia e ao invés de descobrir o mundo, quero descobrir meu quarto, ao invés de cantar, decidi ser pintora, ao invés de dormir, quero sonhar acordada. Que esse meu delírio latente livre todos os seres puramente humanos de meu caminho e o deixe então aberto para alguém  que seja minha contradição constante, de olhos tão perdidos e sonhadores como os meus. Somente um louco seria capaz de capaz de sair de sua realidade para conhecer meus amigos imaginários e caminhar comigo de braços dados pela madrugada, dançando uma música que ninguém mais, além de nós dois, é capaz de ouvir."



Para ouvir, de mãos e corações dados.



   Le Moulin  - Amelie Poulain Soundtrack

Um comentário:

Ana Paula disse...

Que louca que eu sou?! Tenho até medo de descobrir...
Eu sei que sou aquela que gosta de tudo colorido, menos as folhas de caderno, aquela que tem mania de arrumação mas separa uma caixa só pra fazer a bagunça, aquela que ama cocada, mas não gosta de coco nem prestígio.#alouca
Acho que já deu pra entender né!?
Adorei o post! bjo, Anap.