Uma vez, numa consulta médica, o doutor
me perguntou depois de analisar as sofridas cordas vocais:
-A senhorita conversa muito?
Minha resposta poderia ser objetiva,
porém sou dada às discursivas, sim ou não nunca
foi bem minha cara.
-Pois então, eu acho que converso um
tanto bom. Não muuuuito, mas razoável, sabe? Igual a uma pessoa normal.
“Igual a uma pessoa normal”, eu o vi repetindo a pergunta mentalmente enquanto me encarava por
cima de seus oclinhos.
Pois bem, ao que tudo indica, eu
converso muito.
Mas mais do que conversar, eu escrevo.
Às vezes, inclusive, tenho a impressão de que só vivo escrevendo, só vivo se escrevendo.
De pequena, escrevia uma infinidade de vinganças aos adultos, segredos
ultrassecretos e sonhos de amor em diários de capinha de plástico, confiando
minhas confidências a um cadeadinho vagabundo. Depois de adulta meus
pensamentos soltos terminaram em impessoais documentos do Word, pois o ritmo
lento da caneta sobre o papel, incapaz de acompanhar meus pensamentos acelerados,
era só mais alimento para minha ansiedade.
E sobre o quê varo a noite escrevendo, eu não saberia definir afinal. Diria que são "feminices" e tudo mais
que envolva mulheres, admitiria pateticamente que não passam de longas
indiretas, confidenciaria que não são minhas vivências e sim de pessoas
inventadas e suas histórias de amor... Mas minha escrita é sobre tudo isso e muito
mais: é tão trivial quanto qualquer instante cotidiano que acabou virando caso,
é tão intenso quando a causa de minha loucura e remédio para minha sanidade.
Também não saberia explicar,
precisamente, por que é que escrevo. Por quê..?
Escrevo é porque preciso. Porque a
palavra que me esqueço de dizer em voz alta não deve se perder, sufocada, em
mim. Preciso verter pelos dedos, derramar-me numa folha branca e sentir-me mais
purificada, de algum modo, ao final da linha. Escrevo porque meus escritos são
capazes –acredite se quiser- de me acalentar quando o mundo todo parece
desmoronar ao redor, quando as pessoas parecem não entender, quando o som
parece ir muito rápido.
Escrevo porque assim não me sinto
sozinha. Porque a solidão pode me rondar às vezes, como ronda todos nós, mas
enquanto eu juntar frases em minha mente e com elas formar textos, e rir desses
textos, e exorcizar-me com esses textos, e me conhecer relendo esses textos, e
chorar de minhas infelicidades com esses meus textos, é que não estou só e não
estou sendo em vão. Estou sendo alguém, ainda que de um modo
muito intimista, estou vivendo, ainda que em tinta e papel, estou plena, ainda
que de minha imaginação e de meus pensamentos.
Mas meu amigo interlocutor, não
leve tudo isso tão a sério e nem esses meus escritos ao pé da letra, pois cada
vez que escrevo concluo que ainda não me conclui; antes, sou levada por letras numa
suave correnteza que hora dessas vira mar, vira prosa, poesia, poema ou conto
de amor. Às vezes vira um casim de ponto de ônibus que duas linhas dão conta de
contar. Às vezes um embaralhado desabafo de mil palavras que ao final soarão
tão insensatas...
E se nada disso pareceu compreensível,
traduzo todas estas linhas em uma frase tão sincera quanto petulante, porém
resume porque brinco de preencher folhas em branco: escrevo para me entender,
não para ser entendida.
Paula
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