domingo, 13 de outubro de 2013

Além do rio...



"You were once
My one companion ...
You were all
That mattered ...
You were once
A friend and father -
Then my world
Was shattered"



Nos quintais mais coloridos, cheios de flores amarelas, vermelhas e azuis; na cozinha onde tantas mulheres conversam animadas enquanto cortam tomates; nas festivas reuniões do final do ano; no seio daquela família enorme de tantos filhos, netos e bisnetos; no casarão branco de janelas azuis... A hora de se despedir também chega.

Se são jovens e partem de maneira trágica, tanta dor parece compreensível; mas quando quem se despede é uma pessoa tão velhinha, apesar da saúde e lucidez incrível, que já teve tanta história pra contar, a dor é só uma coadjuvante não é mesmo? Não. Dói e é demais. Se a morte chega de maneira abrupta, ou se é esperada, ou se é tão serena como “um passarinho”, dói ainda, e sabe, é demais.
Porque essa gigante família não esperava perder a liderança tão cedo. Ainda que o tão cedo significasse noventa e (quase) sete anos. Tão cedo porque pra se despedir, nunca há demora, estamos sempre deixando o relógio correr bem devagarzinho...

“Ora, o último inimigo a ser derrotado é a morte”. Derrotamos a morte quando acreditamos em um Deus que consola que abraça e, principalmente, que ressuscita. Mas derrotar a saudade é difícil, superar a distancia e engolir o nó; pensar “e agora?”. Nunca estamos preparados, por mais que saibamos no fundo, por mais que todos digam “basta estar vivo”, o arrepio que percorre o corpo, a frialdade que nos envolve, os olhares assustados tão cúmplices, nunca estaremos preparados.

Sentimos dor nos pés, pois quase não nos sentamos durante a noite; dor no pescoço, quando cochilávamos de mau jeito na cadeira; dor nos olhos, nos músculos da face, de tanto chorar; dor pelo corpo, quando nos apertávamos forte demais para aplacar a tristeza. Mas a pior, é essa que fica quando já estamos em casa descansando, repensando o ocorrido, meditando nos últimos minutos ao seu lado. Tudo em meu corpo dói, não há um pedacinho que não lateje; mas agora, depois de dizer meu “até breve” e deixá-lo, não há parte que doa mais que meu coração.

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